Jornalista do DN e escritora, Maria Augusta Silva acaba de ver publicada a sua primeira colectânea de poemas em livro, Dança de Matisse (edição pela Quasi). Já representada em algumas páginas literárias e antologias poéticas, só agora, contudo, a autora decidiu reunir em livro alguns poemas inéditos escritos ao longo dos últimos 30 anos. A obra em questão será hoje lançada oficialmente (na livraria Bertrand do Picoas-Plaza, pelas 18.30 horas), com apresentação de Teresa Rita Lopes e declamação de alguns poemas do livro pelos actores e recitadores António Freire, Manuel Diogo, Maria Luísa e Maria de Fátima. .Maria Augusta Silva explica a razão de só agora, aos 57 anos, haver publicado alguns dos seus poemas em livro "Nunca houve nenhuma urgência de me impor". É certo que se foi impondo ao longo dos anos nas páginas do DN, onde ingressou em 1978, bem como através dos livros Em Nome da Vida - Portugal e o Cancro (reportagem), Corino Andrade - Excelência de uma Vida e Obra (biografia) e, mais recentemente, Poetas Visitados (entrevistas). .Embora cultivando sempre, em algumas das suas peças, sobretudo aquelas mais directamente relacionadas com a literatura e outras artes, um registo de escrita relativamente poético e cuidado, a verdade é que, para si, somente a poesia permite que "o eu e o tu interiores dialoguem entre si de uma forma mais profunda do que no jornalismo", o qual considera como requerendo, necessariamente, maior objectividade, se bem que "uma escrita escorreita e enxuta não obrigue a que não se ponha nela sensibilidade"..Para a autora cada poema ou cada palavra "é uma forma de procura e uma pergunta que ficarão sempre inacabadas porque nós próprios somos seres inacabados". Daí a razão de os seus poemas terminarem sempre em aberto "Os meus poemas nunca têm um ponto final". São poemas que se ligam com o(s) outro(s) como os corpos irmanados representados no quadro de Matisse. Maria Augusta Silva tem consciência dessa "comunhão ilimitada" que é o poema: "Quando se escreve é talvez quando se rompe mais com a solidão". A poesia é, na sua opinião, "uma forma profunda e sentida de encontro comigo e com os outros", não sendo, porém, em seu entender, um exercício fácil. "O exercício da escrita é sofrido no desejo de que a palavra não seja uma coisa oca, meramente plástica", confidencia, acentuando que "a palavra tem de ter um sentido no qual eu própria me sinta verdadeira"..Quanto ao título escolhido para o livro, retirado de um seu poema homónimo, refere "Matisse é um dos meus pintores. A sua pintura convoca-nos para uma comunhão que passa pelo corpo, uma comunhão ilimitada. E o corpo é, porventura, o nosso grande templo - no corpo tudo se conjuga. Sendo o corpo finito, ele dá-nos também a possibilidade do não-limite, nomeadamente quando falamos de amor". Na contracapa de Dança de Matisse podemos ler justamente esse poema "Convoca-me para uma dança/ de Matisse/ unidade de sal e luz na rotação/ do sopro/ que resta. Sossega o golpe do choro/ não chorado./ Dança até o corpo ser indecifrável".